quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Partilha V 1.1

Olá,

Tenho andado a pensar no que haveria de escrever a seguir, pois a minha ideia da zona de conflito de ideias pareceu não resultar muito bem, dado que não houve qualquer "conflito" e decidi-me a partilhar algo, uma postura que adquiri para viver. Não é uma postura que possa ser considerada correcta ou errada, é apenas uma maneira de olhar para as coisas.

Saído duma infância e adolescência tranquilas, só entendi o que era o stress quando cheguei a sonhar com o trabalho, com um superior hierárquico que gostava de massacrar os tenrinhos, como eu era e felizmente, consegui mudar de secção e de superior hierárquico. No meu novo posto dentro da empresa, conseguia observar com mais atenção a maneira como a maioria dos meus colegas olhava para o trabalho e para a vida e decidi que eu precisava de mudar. Todos eles eram viciados em café e, pelo menos setenta por cento, também viciados em tabaco para aguentarem a pressão e eu não queria continuar a ser como eles, raivosos...doentes. Ganhava bom dinheiro e achava que isso podia justificar a forma como o trabalho pode conduzir ao mal-estar, à doença, pela exigência, pelo stress e pelas várias formas como os assalariados usam o seu dinheiro para "descontrair". Entretanto, fui despedido, por estupidez minha, mas há males que vêm por bem.

Fiquei um ano desempregado. Foram alguns três meses até o formigueiro de trabalhador passar, aquela sensação estranha que nos faz sentir que se paramos, morremos, mas depois de acalmar, comecei a ver as coisas de maneira diferente... Comecei a ler como nunca tinha feito até aí, peguei em livros que me mudaram, essencialmente ao nível dos pontos de vista. Li sobre os descobrimentos, história, política e economia mas sempre na abordagem dos vencidos, dos lesados, a qual não estamos habituados a ouvir falar. Passei a entender o mundo, pensava, os seus circos mediático, político e económico.

A pilhagem dos povos pela elite, que existe, por muito que não queiramos acreditar, já acontece desde tempos remotos, lá "longe", na origem do poder político e religioso e tem avançado sempre no sentido de arrasar com tradições, crenças, conhecimentos que dão poder aos povos, que lhes dão alento, ou se quiseres, liberdade, que no verdadeiro e, para mim, único sentido da palavra, pode ser assustadora, pela vulnerabilidade que impõe e pela responsabilidade que exige, mas os antepassados dos povos que têm alimentado o sistema actual viviam assim e isso perdeu-se...e agora chamam-lhe evolução!?

Com a quantidade de horas que o cidadão comum passa a trabalhar, a sua cabeça e corpo ficam tão desgastados que nem tempo, nem energia têm para pensar quando param. Eu vejo-o e sinto-o... Ninguém está para grandes "filosofias"(como lhe chamam frequentemente) depois de oito horas de trabalho, o que é compreensível. Há o hábito de dar grande importância ao emprego de alguém, há o hábito de usar o emprego para explicar quem é determinada pessoa, há um certo sentido de honra associado ao dinheiro ganho "honestamente". É ganho honestamente mas desonestamente-pago, essencialmente em Portugal.

Uma das coisas com que muito pouca gente está habituada a ter de lidar é o conceito da "não-acção" e o grande responsável por isso é o trabalho, o emprego, pela importância e tempo que ocupam na vida. Deparei-me com a não-acção, como é óbvio, durante o ano em estive desempregado. Primeiro apareceu em livros, todos sobre assuntos diferentes, este conceito que não fazia muito sentido. Depois, dada a importância que os autores lhe atribuíam, fiquei curioso e tentei experimentar em pequenas coisas como tentar estar algumas horas em estado de não-acção.

Não-agir pode-se explicar como habilidade de saber prestar atenção ao desenrolar natural da vida. A atenção de que falo é uma atenção consciente, em que concentramos toda a nossa energia na observação, pura e simples, tentando, mais do que explicar o mundo, compreendê-lo.  A esta linha natural que acontece independente da nossa vontade os chineses chamam o Tao. Não parece fácil pensar neste modo, essencialmente porque estamos habituados a pensar sempre no que podemos fazer e muito raramente, ou nunca, pensamos no que podemos não fazer, mas assim que atingimos o estado pela primeira vez, é fácil de perceber a importância que tem para a mente. Desligar o pensar é uma maneira de praticar a não-acção.

A não-acção é a única forma de revolucionar o mundo. Estamos tão presos ao sistema, em todos os sentidos, que tudo o que fizermos irá enquadrar-se num aspecto do sistema. O nosso consciente já está danificado, pela hipertrofia. Como um músculo usado em excesso. Na não-acção há verdadeira liberdade, porque, é possível fazer exactamente aquilo que se quer, deliberadamente, sem trair o que vai na alma.  É um dos segredos que foi apagado, ou dissimulado pela "evolução".

Até breve...

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