terça-feira, 19 de julho de 2011

Alimentar a doença

Olá,

Long time, no see!

Hoje volto-vos a escrever depois de ter vivido uma experiência interessante. Encontrei-me com um amigo, artista e agricultor, a quem foi cedido um espaço para fazer uma horta, curiosamente, numa galeria de arte, e fomos visitar a dita horta. Neste momento, ele está a tentar lá pôr em prática alguns princípios duma filosofia de vida que terá dado origem à permacultura. Esta filosofia de vida, seguida pelos nossos antepassados, desde tempos certamente anteriores aos celtas, contenta-se com o desenrolar natural da vida, ao ritmo da natureza. Podemos aplicar os princípios da vida natural aos vários aspectos da nossa vida doente.

Masanobu Fukuoka, cientista convertido ao naturalismo publicou, em 1975, The One-Straw Revolution: An Introduction to Natural Farming (pt. A Revolução de uma Palha - Uma Introdução à Agricultura Selvagem, ed. Via Óptima), um livro de grande poder pelo conhecimento que contém. O naturalismo de que falo é muito mais do que andar nu na praia. Segundo tenho vindo a descobrir, o objectivo final da ciência é enterrar este naturalismo nas profundas catacumbas do esquecimento humano. Repara que só o que a ciência aprova é que é verdade. Isso tá provado, cientificamente.

Qual é a batalha eterna do ser humano, cuja arma de ataque é a ciência? A batalha contra a natureza! Ele é casas, ele é vidros duplos, aquecimento central, ar condicionado, no carro, no escritório, no shopping, perfumes e cremes para encobrir o cheiro a podre que emana dos nossos corpos doentes, podas das árvores, cidades que nos protegem dos outros seres vivos chamados "selvagens", quando chove, dizemos "Tá mau tempo!". Não há "mau" tempo, há tempo. Somos doentes, restam dúvidas? Então vá lá... Esta batalha, é...bem, é contra nós próprios também. Psst...nós fazemos parte da Natureza. Criamos a ciência para podermos lutar contra nós próprios.

Hoje vou falar-vos da alimentação. Da produção, do consumo e do efeito terapêutico, ou não.

A experiência que vivi foi a de partilhar um pepino, um tomate e uma cenoura acabados de apanhar da horta do artista. São alimentos, por assim dizer, naturais. Ricos nos nutrientes que absorveram da terra, sem adubos, cresceram num ambiente calmo, rodeados de outras plantas, o mais semelhante possível ao que poderia ser o habitat natural. O artista ainda não tinha comido desde que acordara e já íamos bem dentro da tarde, o que se começou a reflectir num desconforto estomacal por falta de alimento. E vai ele e saca dos referidos legumes, partilha-os com os presentes e assim que termina de comer a sua parte sente-se satisfeito, refeito para o resto do dia. Ele que é vegetariano já lá vão uns anos, tem bastante experiência no consumo exclusivo de alguns legumes de super mercado e garantiu-me que aquilo que aconteceu ali nunca aconteceria com os legumes doentes que se vendem no super mercado.

Aí, lembrei-me da experiência do Sr. Fukuoka. O que ele explica no seu livro é que todo o esforço e toda a energia que é utilizada pelo homem para produzir, transportar e reciclar comida e embalagens em quantidades astronómicas (é tanta que até nos damos ao luxo de desperdiçar às toneladas, por dia) é inútil. O chamado método agrícola natural permite, entre outras coisas, uma poupança de recursos, tempo e saúde. Quem é que nos convenceu de que para comer temos de trabalhar duramente durante todo o ano? Mesmo em agricultura? Acreditem ou não, a experiência do Sr. Fukuoka é de que com uma média de uma hora de trabalho por dia, durante um ano é possível obter alimento em quantidade suficiente para consumir e vender, se necessário, embora muito mais saudáveis. Os únicos instrumentos que são precisos são: uma foice, paciência e paz de espírito.

O Sr. Fukuoka pensou e passou a acreditar que toda a humanidade está doente também devido à comida doente que ingere! Onde está a saúde de vegetais que cresceram dentro duma estufa, enfardados de químicos para crescerem? E mesmo de animais que nascem, crescem e morrem sem nunca saírem do edifício onde são produzidos? O próprio termo "produção alimentar" demonstra o afastamento da natureza por parte dos alimentos, e por conseguinte, do homem. Demonstra a desresponsabilização pelo rumo que as coisas tomaram e a arrogância de quem se encosta à sombra da razão. Agora, pensa tu, quão saudável te é possível ser se te alimentas de outros seres vivos que estavam doentes quando abatidos?

Nunca te ocorreu a razão pela qual comemos tanto? E comidas tão temperadas? A quantidade é porque os alimentos da indústria alimentar não satisfazem as nossas necessidades nutricionais como um alimento natural e os temperos é porque o sabor dos industriais se perde durante o tempo de vida.


Parece que estamos a levar a melhor na nossa batalha contra nós próprios.

Até breve.